ALGUNS
INFORMES SOBRE NEUROCIÊNCIAS
por Profº Sérgio Costa.
As últimas considerações
representam os estudos introdutórios ao campo das neurociências que,
cada vez mais, estão ganhando uma crescente importância na Psicanálise em geral
e nos fenômenos psicossomáticos, em particular. As neurociências demonstram
como as emoções se desenvolveram para aumentar a sobrevivência e garantir a
existência da espécie – em qualquer espécie animal - por propiciar e organizar
soluções mais adaptativas aos problemas inerentes aos seres vivos, tal como é a
busca de uma homeostasia corporal, a necessidade de alimentos e demais demandas
pulsionais, a fuga de perigos, a reprodução, os cuidados com a prole e as
relações sociais.
Deste modo, as neurociências
objetivam iluminar os circuitos cerebrais das emoções, assim comprovando o fato
de que, por vias neuronais, através de partes do cérebro como tálamo,
amígdala (funciona em nível subcortical, com respostas rápidas, curtas, em
bloco), hipocampo (funciona em nível cortical, com respostas mais lentas
e longas, porque ele registra a “memória do perigo”, o que lhe possibilita,
pelo “medo”, a prevenção em espaços e circunstâncias delimitadas, de maneira
que, nos casos de lesão do hipocampo, o medo se generaliza), córtex ocipital
(mais destinada a reações impulsivas contra os supostos perigos) e córtex
pré-frontal (responsável pela atenção dirigida e pela tomada de decisões,
com uma escolha de respostas adequadas, baseadas em experiências prévias),
juntamente com a secreção de serotoninas, cortisol, entre outras, determinarão
respostas corporais que são hormonais, viscerais e da musculatura esquelética.
Por exemplo, um determinado
estresse provocará uma excessiva excitação do sistema nervoso autônomo e,
através do eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal, este último elevará o
nível de cortisol, o qual, por sua vez, promove prejuízos tanto no sistema
imunológico (determinando quadros de cólon irritável, asma, úlcera...) quanto
no sistema cognitivo (promovendo uma diminuição da memória, concentração,
capacidade para pensar, agir com coerência, uma certa confusão e dificuldade de
usar as outras pessoas que, normalmente, por intermédio da função de
“reconhecimento”, exercem o papel de auto-reguladores das emoções). A
ausência dessa última condição favorece o surgimento de uma “alexitimia”, ou
seja, de uma incapacidade para ler as emoções, enquanto o pensamento adquire
uma natureza operatória, pois as fantasias, fazendo um curto-circuito,
em vez de ficarem conscientes, drenam através do corpo, assim alimentando um
círculo vicioso.
Ainda dentro do campo das
investigações que cercam as inter-relações entre os processos mentais e os
orgânicos, impõem-se mencionar duas importantes fontes: uma é a provinda dos
estudos dos norte-americanos Sifneos e Nemiah, que introduziram a noção da alexitimia,
antes mencionada. Conforme designa a etimologia dessa palavra, que deriva dos
étimos a (quer dizer: “privação de”) + lex (leitura) + timos
(glândula que era considerada a responsável pelo humor), o conceito de
alexitimia alude à dificuldade de os pacientes somatizadores conseguirem “ler”
as suas emoções e, por isso, elas se expressam pelo corpo, assim caracterizando
uma dificuldade neurobiológica de simbolização. A segunda fonte procede da
Escola de Psicossomática de Paris, que aportou o conceito de pensamento
operatório, ou seja, o somatizador tem dificuldades de fantasiar, de sorte
que o ego não consegue processar, elaborar e representar as pulsões, do que
resulta que ele superlibidinizar o corpo de forma concreta.
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