Por Sérgio Costa
O
"desviante" psicótico, por outro lado, pode ser ajudado de forma a
conservar um sem-número de reações sociais normais que fazem parte do
repertório de sua existência. Adquirimos uma percepção mais aguda dos efeitos
nocivos que decorriam de se oferecer aos psicóticos apenas uma custódia
hospitalar. Sabemos hoje que o ambiente social pode contribuir para
a terapia — auxiliando ou prejudicando a recuperação Os novos
métodos de tratamento da psicose procuram, entre outras coisas, evitar uma
ruptura social, que é a causa mais comum das internações. Por
um lado, o hospital para doentes mentais necessita modificar sua função
social; em vez de oferecer apenas uma espécie de proteção estéril, deve
proporcionar situações sociais terapêuticas. Por outro lado, as atitudes
populares relacionadas com as doenças mentais precisam ser transformadas, caso
nossa sociedade não queira oferecer condições antiterapêuticas. Nossas
opiniões das funções sociais decorrem geralmente das experiências repetidas
que temos a respeito delas. Não é graças a uma única experiência que as
aprendemos; nossa compreensão necessita de uma prática quase diária. E isso se
aplica também aos que enlouquecem. Se os pacientes psicóticos são considerados
indivíduos sem nenhum significado social, exceto em termos de
ameaça, se são tratados como indivíduos insensíveis ao meio em que vivem,
necessitando apenas de uma vida grandemente simplificada e despida das
sutilezas e complexidades da existência comum, certamente eles se tornarão
socialmente vazios. Uma condição de anonimato permanente transforma as pessoas
em meras sombras das personalidades que antes possuíam. Á maioria das
pessoas que fazem parte de um grupo com relações sociais recíprocas deseja que
os desviantes se adaptem às suas normas. Assim, organizações sociais especiais
criadas para manter os psicóticos na comunidade acarretariam maior compreensão
e tolerância do público graças a uma experiência mútua. A natureza das
"dinâmicas do grupo" sugere um esforço em vista de um ajuste por meio
das forças sociais. Naturalmente, estamos generalizando. Á própria pressão em
vista da adaptação social pode provocar uma crise em alguns pacientes, ou
apenas contribuir para ela. O psicótico não representa, porém, geralmente
perigo para a comunidade. Refiro-me nesse caso à comunidade , mais do que a
família. Na família, a menos que certos serviços comunitários especiais sejam
bem desenvolvidos, a tensão pode ser terrível. Ora, não é fácil modificar
certas atitudes sociais antigas, de sorte que os serviços da comunidade possam
funcionar adequadamente, numa sociedade que se mostra intolerante para com a
loucura. Para muitas pessoas, a loucura ainda é um problema moral mais do
que um problema de doença mental; ela representa uma ofensa contra o código
moral delas
Um dos fatores críticos na
rejeição social dos doentes mentais age como gatilho que dispara a sequência,
"Ele está louco, precisa ser internado" , é o emprego das
classificações chulas. Como se o nome pejorativo que emprestássemos a uma
pessoa ou a um objeto simbolizasse uma vingança. E o portador do transtorno
entende e sente. É difícil ser doente mental onde não há respeito algum.
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